domingo, 1 de agosto de 2010

inchocável?

     Vivemos em uma sociedade saturada. Saturada de referências, entupida de todo tipo de criação imaginável. Dessa forma, toda criação se torna obsoleta no momento que perde seu valor de singularidade. Nada mais é único, tudo já foi feito e refeito milhões de vezes, nada soa novo. Estamos na constante reprodução e reconfiguração das mesmas milhões de coisas já criadas. É o que dá a impressão pelo menos. E parece também que tudo virou produto. Tudo é descartável porque virou produto, foi transformado em produto pelo mainstream. Tudo foi e é incorporado ao sistema, se tornando mecanismo de lucro. Tudo é comprável e nada ameaça a ordem, só continua contribuindo para a lógica do consumo a que estamos submetidos.
     Aquilo que surgiu como manifestação artistica ou subversiva ou política ou de qualquer outra natureza vira um commodity. Aquilo perde seu sentido original e só o mantém simbolicamente, passando a ser algo que gera capital. É atrativo pelo que representa simbolicamente, pelo seu significado perdido que teoricamente se mantém, porque se mantém no imaginário, como uma idéia vendável. Atitudes e formas de pensar são consumíveis, são compradas apenas em imagem e quem compra fica com a imagem que está tomando atitude - só com a imagem e sem atitude alguma. A pessoa fica com a imagem de que está sendo crítico ou rebelde, quando na verdade supre o sistema comprando pra si a falsa imagem de que é crítico ou rebelde. Ser contra o sistema já se incorporou ao sistema.
     Elvis costumava chocar e quebrar padrões. O punk chacoalhou o estabilishment de jeito. Hoje os dois alimentam o sistema. Os sentidos são perdidos e tudo é banalizado. Nada mais choca, porque tudo virou produto inofensivo. Aquilo que gerava estranhamento não mais o gera. O estranhamento deixa de estranhar e passa a vender como algo que estranha - só que não estranha mais. E essa constante coisificação gera medo. O medo de que o sistema se torne inquebrável, pois tudo que vem contra ele ele tira o sentido original e incorpora como produto vendável. Há também o medo trazido por essa constante perda de sentido. Deixamos de pensar para apenas consumir. Com isso só cresce o vazio gerado pelos produtos sem sentido. Nossa identidade e o significado que tinha nossa cultura parecem se perder ao serem substituidos por uma cultura de consumo do oco de significado. Nós acabamos se perdendo também. Ficamos sem base alguma aonde se suportar, sem sentido para si e para a vida. Sem sentido e presos em um sistema indestrutível. É para aí que parece que estamos caminhando.
     Parece que nada mais choca o sistema, nada mais consegue criticar e apontar os problemas. As várias formas de crítica também já se incorporaram e perderam sua força. Novas formas poderão ser criadas ou todas já foram criadas? E, se criadas, essas novas formas também não se incorporarão? É algo para se pensar.
     Para onde estamos caminhando? Banalização generalizada? Um vazio angustiante? Há como mudar essa direção? Há como criar novas formas de choque ou reciclar as antigas? O que ainda tem sentido hoje? O que tem sentido pra você?

Um comentário:

  1. Parabéns J.V. pela nova roupagem do Blog. Aliás é tb . nova nas idéias. Como sempre brigando por uma sociedade melhor, onde todos podem respirar novo ar. Se eu lhe contar que em 2030 teremos 2 bilhões de pessoas passando fome, vc. fica muito triste. Cada pessoa precisa 20% do seu peso em calorias para continuar vivendo, abaixo disso, ela vai deteriorizando os reservas dos órgãos e qdo. acabar. Adivinha o que acontece? Morre! Até lá dá tempo das sociedade se conscientizar e fazer menos filhos e ir mais a escola, aprender alguma coisa, vc. n~aha? beijão e parabéns...

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