sexta-feira, 16 de abril de 2010

McLaren, a mente por trás do punk

    No último post falei um pouco do que foi o punk. Coincidentemente, morreu semana passada o responsável pelo punk ter sido o que foi: Malcolm McLaren, o empresário dos Sex Pistols. Não sei se posso chamá-lo de gênio, porque não sei se ele imaginava a genialidade de sua jogada. Só sei que, apesar de eu vir culpando a ganância e a mentalidade materialista pelos problemas mundiais, esse é um exemplo em que a ambição de um homem chacoalhou o mundo com tudo, colocando todas as questões na mesa e instaurando a revolta mundo à fora.
     O movimento punk não começou na Inglaterra, ele já engatinhava anos antes nos Estados Unidos. As primeiras bandas que deram início a uma movimentação inicial na contramão do que vinha sendo feito estavam em Nova York na metade dos anos 70. A mais importante delas, como todos sabem, foi o Ramones - pais do punk. Nesse contexto, bandas cruas, minimalistas e - em alguns casos - agressivas e rebeldes surgiam fazendo o som como bem entendiam. O DIY ( Do it Yourself - Faça Você Mesmo) se impregnava, à medida que jovens desiludidos com a sociedade e a industrialização e profissionalização do rock criavam suas próprias bandas. Começava aí as, até hoje referência, músicas de 3 acordes apenas. McLaren, inglês viajando pelos EUA, observou esse fenômeno que acontecia e viu nele uma oportunidade de fazer muito dinheiro. Ele entendeu o que estava acontecendo, viu o que a juventude queria e precisava.
     De volta à Inglaterra, ele criou sua própria banda, seguindo o que rolava nos EUA. Juntou quatro moleques - um dos quais seria depois substituido pela polêmica lenda e ícone punk Sid Viscious - e montou o mito: os Sex Pistols. Levando a rebeldia, o som cru e simples, a agressividade e o DIY ao level máximo, a banda foi criada sem preocupação musical nenhuma, mas de olho na atitude, no questionar e causar acima de tudo. Foram a banda mais anarquista até então e ditaram para o mundo o que era ser punk, incorporando em si a revolta da juventude da época e disseminando seu estilo, música e atitude por todo o mundo. Suas roupas foram criadas por Vivenne Westwood - consagrada até hoje como estilista púnk - na época casada com McLaren. McLaren conseguiu toda a grana que queria, atingiu seu objetivo, mas ele fez muito mais que isso. Sua ambição capitalista o levou a criar um movimento subversivo caótico anti-capitalista e anárquico.
     A repercussão foi de proporções enormes, globais. Tocar três acordes, xingar o sistema, a rainha, dizer que não havia futuro, que fomos transformados em idiotas, cuspir na platéia, pixar as paredes usando roupas largadas, rasgadas e  sujas com elementos sadomasoquistas - espetos, couro e correntes - era o que o mundo plastificado industralizado precisava, uma oposição extrema ao que estava presente! Os Pistols personificaram o sentimento geral. Sem McLaren, o movimento não teria sido grande como foi, o punk inglês surgiu daí. Um imenso cenário de bandas punk surgiu então, entre elas o The Clash, outra influência inquestionável. E nesse caldeirão foi que o punk se consolidou como movimento de contracultura, tendo todo um conjunto de ideais criados a partir daquilo já estabelecido como a cara do punk por Johnny Rotten (vocal dos Sex Pistols) e seus colegas.



  

      É engraçado que buscando enriquecer enormemente como manda a lógica do capitalismo, McLaren tenha criado um grande grito de revolta e crítica a essa mesma lógica. Não tem jeito, o que o povo quer é o que dá dinheiro e se o povo compra a revolução, a revolução é que dará dinheiro, mesmo que ela consista em questionar toda a lógica do dinheiro acima de tudo e desmantelar dogmas da mentalidade do "ter". Mas em um mundo em que os mais diversos agentes atuam, cada um em sua direção no salve-se quem puder que é essa loucura do capitalismo selvagem desigual, os mais diversos resultados e reações advesas acabam por se desencadear. No meio disso, nasce o punk. No meio disso, nasce as mais diversas manifestações culturais, mas também surgem os mais teriiveis métodos de manipulação e alienação da população. Ninguém tem o controle enquanto seguirmos individualistas, cada um por si. Uns tentando dominar aos outros e, no final das contas, uma minima minoria é quem se beneficia apenas. É só ver que o punk acabou incorporado ao sistema, deixando de ser um questionamento ao mesmo para virar um mero commodity.
     Entre as forças atuando nas mais diversas direções, as com mais capital acabam vencendo e encaminhando para seu lado. Por isso o sistema não muda, mesmo com manifestações como as do punk. A única forma dos com menos dinheiro, a maioria, conseguir buscar um equilibrio, direcionar para seu lado as ações e reações é se houver uma união. Se todos atuarem juntos na mesma direção, serão mais fortes que aqueles que detém o poder aquisitivo hoje. É óbvio, a união faz a força, a maioria junta tem o poder de mudar. Mas mesmo sendo óbvio, parece que ninguém enxerga isso hoje. Seguimos no individualismo, na mentalidade do "ter" e do "garantir o seu". É hora de mudar a mentalidade, para fazer um movimento que realmente mude o mundo por completo. É levar o que o punk foi para um outro nível.

2 comentários:

  1. João esse é o tema mais interessante" a mente por trás do punk" são verdadeiros fabricantes de ideias geniais. A beleza do roch está atrás do que cantam e escrevem, basta conhecer a história do Rock que é um jeito de ser uma filosofia de vida inovada.Não é apenas música mais novas forma de ver o mundo e recria´-lo.Parabéns vc. captou bem a idéia e através de suas ideías fui ver de perto a "cor do bicho" Fiquei surpreendida com tantA genialidade.A palestra do Bob Dylan deu 7 páginas manuscritas.Vai por email. Tá?

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  2. João ontem lhe mandei 3 postagens, pelo jeito não foram. Entre no blog do FERNANDO CHUÍ" e observa como funciona é diferente e não há nenhuma dificuldade."Blog Fernando Chuì". Alguma coisa está acontecendo.O pior que apaga, e não se aproveita nem o que se escreveu.Eram 3 belas postagens, modestia a parte.

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