sábado, 20 de fevereiro de 2010

do underground para o mainstream

        Pegue o cd mais recente de uma banda de rock reconhecida internacionalmente que lota estádios pelo mundo todo. Agora pegue o cd mais recente de uma banda de rock (de preferência um gênero de rock similar ao da anterior) desconhecida, independente que toca no barzinho da esquina por uns trocados. Compare os dois. A primeira diferença que você notará é na produção, na qualidade das gravações e na limpeza do som. Obviamente, a primeira banda tem muito mais grana e é vinculada a uma puta de uma gravadora e um produtor musical fudidos, logo dará de dez a zero nesses atributos. A segunda terá som de garagem, poluido e mal acabado. Até aí beleza, não é isso que vai determinar que banda é melhor. Seguindos pelas faixas dos dois álbuns, você encontrará a principal caracterítisca que distinguirá os dois sons: os elementos pop.
        Os álbuns de uma grande banda de rock de sucesso tendem a ter algumas faixas mais melódicas, leves, numa levada calma e de fácil digestão. Em paralelo, uma banda do cenário underground tende a manter o som pesado durante todo o álbum porque, afinal de contas, eles são uma banda de rock e esse é o som deles! O motivo pelo qual bandas famosas mundialmente tendem a soar mais pop é simples. O pop, como já diz o nome, é um som popular. É um som que acaba por agradar o público em geral por ser de fácil assimilação.  E os conjuntos que estão no mainstream, com alta divulgação na mídia, fazem músicas desse gênero para abranger um maior número de pessoas e, com isso, ganhar mais dinheiro. O processo acontece mais ou menos assim: uma banda desconhecida ao, por alguma razão como esforço próprio, conseguir fazer um pouco mais de sucesso e se destacar, atrae os olhares das gravadoras. As gravadoras de cds notam um talento ali, algo que cai no gosto dos fãs, e caem em cima da banda de roqueiros que não têm onde cairem mortos com contratos milionários com zeros que não acabam mais. Ao assinar esse contrato, a banda cai na mão da gravadora e é obrigada a mudar milhares de coisas, como por exemplo deixar o som mais pop para aumentar a legião de fãs e deixar a gravadora ainda mais rica. Nesse exato momento, a banda passa do underground para o mainstream.
        Não são todas as bandas que aceitam se vender dessa forma para o sistema, por assim dizer. Muitas veem isso como ir contra seus valores subversivos e alimentar a cruel máquina capitalista, outras não pensam nem duas vezes - também, os caras nunca viram tanta grana na vida! O fato é que muitas entram no barco e, tentando ganhar público para as gravadoras, acabam por perder seus fãs mais radicais. O Dire Straits já dizia "Get the money for nothing and get chicks for free", criticando a atitude de vender "sua alma" por dinheiro. Eu concordo em parte porque, como tudo, a história tem dois lados. Se por um lado os questionadores do sistema passam a alimentá-lo - é, o rock acabou virando uma máquina de dinheiro nas mãos das empresas - por outro, temos divulgadas excelentes bandas antes escondidas. Sim, os caras mudaram um pouco o som, viraram pop, mas ainda assim ainda continuarão fazendo músicas mais rock n' roll e de inquestionável qualidade, porque nem eles nem a gravadora querem perder o público inicial  e porque foi com esse som original que eles se destacaram na multidão e alcançaram os grandes palcos. Istoé, a banda pode ficar mais pop, mas nós passamos a ter músicas questionadoras com enlouquecedores riffs agora no mainstream - já que o som antigo é em parte mantido. Em consequência disso, muito mais gente terá acesso a esse tipo de som e mais gente vai querer fazê-lo. Quanto mais difundido o rock, melhor. Temos mais gente criando e recriando em cima daquilo e mais gente questionando e criticando da mesma forma que fazem as letras das músicas. E essa ampla difusão só o mainstream permite. Um estilo musical preso no underground, por mais que não contribua com as grandes empresas, fica desconhecido pelas pessoas. A verdade é que o mainstream é que movimenta música.
       Não vou negar que me revolta baixar o cd de uma banda que eu adoro e encontrar musiquinhas deprê ou felizes demais que dão vontade de vomitar no meio.  Mas o mainstream é que permite aos gêneros explodir e serem conhecidos mundialmente. Sem ele, não se conheceria o rock mundialmente e, por isso, suas vertentes nunca virião a existir, não teriamos punk, grunge ou mesmo qualquer tipo de rock brasileiro. É uma pena que se pague um preço tão caro pela fama, o preço de tudo no capitalismo: contribuir com a terrível lógica materialista em que vivemos. A parada é séria, as bandas passam de rebeldes a escravos das gravadoras. É uma ironia, até mesmo porque eles passam a ser rotulados como "astros do rock", quando na verdade se tornam prisioneiros do pop. Não queria colocar as gravadoras como vilãs, até porque elas estão inseridas em todo um sistema e também não se pode generalizar! Mas o que elas, no geral, querem é fazer mais e mais dinheiro com a banda e acabam a transformando em um negócio, como tudo no capitalismo. A culpa não é delas, mas da lógica em que vivemos e da mentalidade que temos incrustrada nas nossas mentes. E os musicos também estão presos a essa lógica, todo mundo no fundo no fundo quer uma vida melhor. As bandas que não se vendem são nobres pois se opõe na prática a essa lógica, conservando a qualidade de seu som por completo. Porém, se nenhuma banda se entregasse à fama...a música não se espalharia mundo afora, o que é algo necessário para o bem da música, mesmo que se entregar ao mainstream contribua para tantos outros males... É a forma de mover a música hoje, é o caminho principal e certeiro da difusão na atualidade. Alternativas existem, mas  sua eficácia é rara, as bandas que conseguem subir ao topo de outras formas são escassas. Estamos ainda dependentes da grande mídia para a grande divulgação. A internet seria a principal alternativa, já que a circulação de informação é livre e global, mas a quantidade de coisa é tanta, que sua banda acaba perdida na multidão, conhecida pelos poucos que por acaso toparam com ela no meio do imenso mar da net
        Mudar essa lógica, só mudando o mundo. Bora?

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